quinta-feira, 15 de abril de 2010

Rumo a Moskovsky Volzal



Em quase cinco horas de viagem dá para escrever pelo menos um post. Na verdade já estamos indo para São Petersburgo e só fiz dois textos sobre Moscou, mas é que essa coisa de sair cedo e só voltar à noite para o hostel nos deixa bem quebrados. Por isso, acho que misturarei todos os relatos e experiências daqui para frente. Ainda vou contar sobre nossas observações dominicais dentro das igrejas ortodoxas, aventuras gastronômicas e comentários sobre os novos ricos de Moscou, mas agora vou falar do trajeto da viagem em si.

Estou bem contente porque nunca tinha viajado de ICE (Inter City Express). Normalmente, vamos mesmo de trens regionais que são mais baratos e vagarosos feito tartarugas. Mas como o Rublo está bem menos valorizado em relação ao Euro (1 para 39) as passagens do trem rápido nem custaram os olhos da cara. Com uma velocidade de 180 quilômetros por hora, alcançaremos São Petersburgo em apenas quatro horas e cinquenta minutos. Com a lata velha noturna dos vagões regionais a viagem seria de pelo menos nove horas.

Partimos da estação Leningradskiy. Aliás, não sei porque, mas sempre acho partidas de trem tristes. Esse quadro de pessoas na plataforma dando tchau e os vagões se afastando cada vez mais rápido. Bobeira! Mas de qualquer modo, esse momento na Rússia é bem diferente com relação à Alemanha. Aqui é uma bagunça, para não dizer uma zona mesmo. Os familiares sobem no trem, ajudam os passageiros a colocarem as malas no bagageiro, a pendurarem os casacos e depois ficam meia hora se abraçando e batendo papo. A cinco minutos da partida, uma gravação (aquelas de companhia de transporte) avisa que os acompanhantes devem desembarcar. Tá, eu assumo que meu russo não melhorou em uma semana, mas o anúncio também é repetido em inglês. Aliás, ta aí mais uma vantagem de viajar de trem ligeirinho. Os nomes das paradas também são traduzidos.

Em Berlim, o trem para na plataforma por menos de cinco minutos. Se não ficarmos espertos, ele sai sem você e sua malas. Os bilhetes nem são checados na porta. Nós o apresentamos só mesmo depois da partida E quem não tem passagem fica choramingando a partida de amigos e familiares do lado de fora. Bom, mas já deu para notar por posts anteriores que a galera russa é bem mais calorosa.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Coitado do Lenin

Ontem visitamos o túmulo do Lenin (como todos os turistas de Moscou), mas confesso que achei a experiência bem estranha. O mausoléu fica na Praça Vermelha, encostado no muro do Kremlin . Após deixar câmeras fotográficas e celulares do lado de fora (isso é bem sério), passamos por detectores de metais e partimos para ver o espetáculo do presunto. Tá, esse comentário foi meio grotesco, mas é literalmente isso. O coitado do Lenin queria ser enterrado ao lado da mãe em São Petersburgo, mas acabou embalsamado na capital. Após sua morte em 1924 e um velório que mobilizou a população por semanas ao longo do inverno, Stalin decidiu que o corpo do líder comuna seria um ícone da revolução e contratou dois químicos para brecar o processo de putrefação. Hoje parece mais um boneco de cera do Madame Tussauds. 

Pelo menos quatro guardas que também parecem estátuas decorativas da tumba pedem silêncio e ordenam que as mãos geladas dos turistas sejam retiradas dos bolsos. Eu até entendo a demonstração de respeito e apesar de eu não ter nada de comunista (quem me conhece sabe) acho sim que as teses do Lenin e sua figura em si como intelectual merece certa reverência. Mas me soa tudo muito falso. Poxa, já o forçaram a ser um símbolo da eternidade e ele ainda está enterrado bem de frente ao GUM. Trata-se de um mega centro de consumo para novos ricos de Moscou, ultra requintado com marcas como Dior, Versace, Bulgari e por aí vai. Mas é bem em frente mesmo. Tá certo, o tal shopping já existia na era soviética, mesmo que com filas enormes e prateleiras vazias. Mas é peculiar sim sair do Armani Café e dar de cara com a casa da imortalidade leninista. Só faltava cobrar ingresso! Mas graças a Deus (e mesmo que ateu, qualquer camarada concordaria) ainda não tiveram essa ideia. 

Ao menos tiraram o corpo do Stalin da mesma tumba, que perturbou a paz de Lenin de 1953 a 1961! Mas isso só porque uma antiga Bolchevique chamada Madame Spiridonova sonhou que Lenin estava reclamando da presença de Stalin ao seu lado! Só tem maluco nesse lugar. Aliás alguém sabia que o nome do Lenin era mesmo Vladimir Ilych? Bom, tenho de admitir que ainda não vi nenhuma camiseta, chaveirinhos e essas parafernálias toda com a imagem do falecido. Será que não venderia ou é respeito mesmo?

Mais peculiar que tudo isso é assistir ao show do Bon Jovi logo depois do discurso do Gorbatchev nas comemorações dos vinte anos da queda do muro de Berlim! (http://picasaweb.google.com/reginacazzamatta)

Obs.: a foto não é minha. A temperatura por aqui já está bem mais simpática.



quinta-feira, 8 de abril de 2010

A coisa tá Russa !



Chegamos ontem em Moscou e desde então tenho pensando como deve ser difícil não saber ler e escrever. Coisas simples do dia a dia como pegar ônibus, metrô ou comprar um creme para as mãos tornam-se tarefas complexas. Não diria impossível, mas quase uma epopeia. A capital russa é bastante parecida com São Paulo. Tá, com suas devidas proporções. Aqui a arquitetura é meio exótica, mas eu me refiro ao clima cosmopolita, internacional, trânsito, muvuca, grandes avenidas, uma cidade pulsante e com todas as vantagens e desvantagens de uma metrópole gigante. A linha de metrô é excelente, são 177 estações. O problema é a movimentação e esse alfabeto sinistro. As baldeações não tem o mesmo nome. É isso mesmo. Por exemplo, a Paraíso em São Paulo é chamada assim não importa se chegamos pela linha azul ou verde. Aqui a mesma estação pode ter vários nomes, dependendo do número de intersecções. A mais próxima do Kremlin, por exemplo, tem quatro cruzamentos e portanto quatro nomes diferentes. E tudo em russo! Como meu teclado não é adaptado a essas esquisitices não posso dizer quais, mas isso também não faz diferença. O subterrâneo é gigante, são estações monstruosas. Essa mania de grandiosidade já aparece até no estilo das estações. O Rô cronometrou hoje: demoramos 2 minutos e 27 segundos na mesma escada rolante até chegarmos no patamar de cima, que pode ser a saída ou uma outra linha.

Por todas essas razões estamos bem equipados. Andamos com o guia da Lonely Planet, mapa da região aqui do hostel e mais o caderno Moleskine Moscou. Só que não dá para parar embaixo das placas para tentar traçar paralelos entre o nosso alfabeto e o ciríico. Em questões de segundos somos levados pela massa, como acontece com qualquer mortal na praça das Sé em horário de pico. É tudo muito cheio, apesar dos trens passarem a cada três minutos. A dica é encostar na parede mais próxima e só descolar o traseiro de lá quando souber a direção e nome da estação que deseja embarcar. Isso foi o primeiro impacto e hoje já estamos mais adaptados aos meios de locomoção. Mas vivemos uma epopeia para comprar uma simples passagem de trem. Aqui no meio da rua quase N-I-N-G-U-E-M fala inglês. Os que dizem para você "falo só um pouquinho", querem na verdade avisar: "tá bom eu não falo, mas vou tentar te ajudar". Resumo, eles ouvem a pergunta, respondem tudo em russo e gesticulam até você seguir na direção certa. 

A aventura de hoje era conseguir comprar tíquetes de trem de Moscou para São Petersburgo. E o pessoal do hostel (galera bem solícita e profissional) salvou a nossa pele. A ucraniana da recepção escreveu em um papel tudo o que precisávamos. Assim só entregaríamos para a moça do guichê. Isso foi fácil, o problema foi chegar até o balcão certo. Entramos em três filas diferentes. Na verdade existem duas ou três ferroviárias no mesmo local. E só uma delas têm trem que partem rumo à São Petersburgo. Mostramos o papel para trocentas pessoas, que iam apontando para alguma direção. Assim como uma gincana de "ache as pistas" encontramos o lugar certo. Depois falo sobre a hospitalidade russa. Segundo nosso guia, Moscou é uma das cidades mais antipáticas do mundo. Não concordei com isso, não. Acho que é meu espírito paulistano apressado falando mais alto. Muitos tentam nos ajudar sim. Mesmo que em russo! Com sorrisos e muitos gestos. Bom, mas eu ainda tenho 15 dias para mudar de opinião. 

Visitamos hoje o túmulo do Lenin. Mas como estamos com fuso de sete horas e o Rô arrumou um frila de tradutor de site de albergue e precisa do computador vou parar por aqui. Ah, última observação. O clima está aparentemente normal depois do atentado da semana passada. As estações estão lotadas de policiais (com chapéis escavuscas e bem moleques), mas não sei se isso é mesmo o padrão.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Visita ao Tagesspiegel


Esta segunda fui visitar a redação do Tagesspiegel, acompanhada pelo grupo de velhinhos do círculo de discussão histórica, lá na Akanischer Platz, perto do metrô Mendelssohn-Bartholdy Park. O jornal foi fundado em 1945 e circula diariamente até hoje pelas bancas de Berlim, concorrente direto do Berliner Zeitung e do Berliner Morgenpost. São veículos mais ou menos como o nosso Jornal da Tarde (JT), um pouco mais elaborado talvez. Como usamos algumas reportagens da época nas aulas para averiguar como o veículo se posicionou diante de alguns acontecimentos históricos, nossa professora achou de bom tom um tour pela redação.