sexta-feira, 28 de maio de 2010

Chute nas Regras


Li uma reportagem bem legal na Spiegel sobre o caos nas cidades da Alemanha após a queda do Muro de Berlim. Os fatos já são bem conhecidos, mas fiquei surpresa com a criatividade e o rebolado que os alemães tiveram, apesar dos problemas e reclamações, para acomodar todas as pessoas que chegavam do leste. E olha que não foram poucas.  No ano de 1989 a antiga “República Federal da Alemanha” recebeu 350 mil descendentes de alemães da Polônia, 202 mil da ex-União Soviética e Romênia, além de 120 mil pedidos de asilo político. Sem contar com  a própria população da DDR que veio de mala e cuia.

Em Hamburgo barcos, campings e até casas suspeitas no distrito da luz vermelha viraram acomodações. Ta, isso foi mesmo um eufemismo para não dizer bordéis. No estado de Nordrhein Westfalen (capital Düsseldorf),  fábricas vazias e hospitais também entraram na dança. Cada um se virou como pôde. Outras cidades, por exemplo, mobilizaram albergues da juventude e escola de polícia. Hans Christoph Hoppensack, diretor do Senado à época, declarou ao ser informado que teria de reativar alguns bunkers da Segunda Guerra Mundial: “é uma catástrofe”.  Caótica ou não a medida foi tomada em Frankfurt e os claustrofóbicos bunkers sem janelas e mau ventilados foram mobiliados com camas e cadeiras. 

É bacana ler não como a abertura foi festejada, mas sim como algumas regras bobas do dia a dia foram quebradas.  Não sei porque aqui tem bem mais graça atravessar fora da faixa, andar de bicicleta na contramão ou passar no farol vermelho. Isso se tornou pequenos prazeres do cotidiano. É como comer bolo de vó com café forte e fresco durante a tarde.  Sem mais digressões. Só para se ter uma ideia, pessoas do Leste puderam assistir peças de teatro e cinema de graça em Frankfurt.  Outro ponta pé momentâneo nas regras: imagina só utilizar o transporte público (S-Bahn, U-Bahn, ônibus, trens, Tram) em Hamburgo sem tíquete! E se o controle viesse era só mostrar a identidade DDR.  Mais legal que tudo, em Lübeck, até estacionar o carro em lugar proibido foi permitido.  Queria ter idade para ter visto!

Mas por hora me contento com  a corridinha no farol vermelho.


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Carnaval das Culturas


Berlim é uma cidade com pretensões "Multi-Kulti" como eles mesmos dizem por aqui. Dos 3,5 milhões de habitantes, cerca de 500 mil são imigrantes de pelo menos 170 nacionalidades diferentes. É realmente uma salada para ninguém botar defeito. Nem é preciso justificar porque o Carnaval das Culturas, que este ano comemora a décima quinta edição, tem super a ver com o clima da capital. Durante quatro dias, nos arredores de Neuköhln e Kreuzberg, há desfiles de carros alegóricos, barracas de comidas internacionais, shows e apresentações paralelas. Durante a celebração, crianças correm com camisetas do Brasil, outras usam o terceiro olho indiano ou se fantasiam com vestidos espanhóis. É como se os berlinenses levantassem uma bandeira branca e toda a cidade fizesse uma pausa para os problemas relacionados à imigração. Não se fala em integração da comunidade turca, problemas econômicos com a Grécia ou até mesmo do tráfico de garotas do leste europeu. No ano passado (nossa primeira experiência), a comemoração recebeu 1,5 milhão de visitantes e 5.500 ativistas.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Para um casal de amigos

21.05.2009

Um boteco é o lugar para qualquer assunto ser problematizado, relativizado e sem o menor pudor, esquecido. Tá bom, não importa o quão profunda é a conversa - ela serve mesmo como pano de fundo para rodadas e rodadas de cerveja, sem grandes pretensões acadêmicas. Quando o tal bar é próximo a uma universidade, a coisa piora. Parece que não faltam idéias para polemizar. A atmosfera propicia horas de efervescentes discussões políticas, de estilo de vida, pós – modernidade e por aí vai.

Quem já não se viu em uma situação assim? Não, não me refiro ao conteúdo, mas sim à conversa boêmia. Pois é. O que defendíamos já mudou, já nem sabemos mais nossa posição (talvez isso seja mais radical entre nós jornalistas). Esse vício que se perpetua durante os anos universitários fica na memória como nossos bons momentos e pronto. Não lembramos mais de muita coisa mesmo. Pra mim não foi diferente. Só me recordo de um único tema em pauta numa quinta-feira à noite do terceiro ano de graduação que rendeu muitas “saideiras". É, a palavra perde o sentido quando não é levada a sério e as pessoas não vão embora.

Entre tantas baboseiras que gostávamos de levar à mesa-redonda, a daquela noite era o amor como construção social. Ih? Sem preocupações, não vou começar a escrever aqui o pouco que aprendi sobre os textos do Nietzsche. Também não me perguntem o que eu achava. Não lembro! Mecanismo de defesa? Talvez!

Esta noite de quinta-feira veio à tona quando pensei em escrever uma crônica para um casal de amigos que completa um ano de casados nessa semana. Sim, eles se conheceram na mesma escola elitista de um bairro do centro expandido de São Paulo há dez anos. Namoraram, brigaram, voltaram, noivaram, viajaram, juntaram grana, casaram.

Mas o que faz duas pessoas tão diferentes se entenderem tão bem? Ele gosta de números, física, astronomia. Ela gosta de história, cinema, literatura. Ele é esportista, ela sedentária de carteirinha. Ele é disciplinado, organizado. Ela convive com crises de rotina. Ele é calmo, tranqüilo e ponderado. Ela é tagarela, agitada e ansiosa. Ele gosta de dormir cedo. Ela assiste TV até tarde. Sinceramente, não sei. Acho que nem eles.

Namoraram durante a adolescência, durante os badalados anos de faculdade. A vida a dois não combina com o individualismo cotidiano? Eles não se importaram e foram em frente! Sonharam juntos, aprenderam a fazer planos a dois, saíram de mochila nas costas, currículos no bolso e começaram a vida. No fundo eles surpreenderam e foram surpreendidos com esse papo de casamento. Há tanto tempo juntos, valorizavam a amizade e a cumplicidade. O papel era só detalhe, formalidades do mundo burocrático. Até persuadiam os amigos à não assinarem. Mesmo assim, riram, aproveitaram e se emocionaram. Foram pegos pela tradição.

Até onde vai? Ninguém sabe. Nem eu, nem eles. Todos nós torcemos.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Imbróglio de Nacionalidades


Neste último sábado, fomos  convidados por um casal alemão  (muito gente boa) para uma rodada de fondue, às 19h. Éramos em três brasileiros, dois mexicanos, dois espanhóis, três alemães e um húngaro. O problema é que, antes do encontro, o grupo de latinos resolveu dar uma passadinha na festa do vinho no vilarejo de “Werder, an Havel” (logo mais escrevo um post sobre a celebração) . A vila é bem próxima de Potsdam, onde supostamente deveríamos aparecer por volta  das 19h.  A combinação foi um pouco desastrada. Leia-se: vinho de morango, framboesa, maça e derivações (se é que podemos chamar isso de vinho); feriado do dia primeiro de maio (passeatas e tropas de choque por toda esquina) e um grupo alegre de amigos tentando entrar nos poucos trens disponíveis e lotados na estação da vila, talvez um pouco menor que Pirapora.