sexta-feira, 29 de junho de 2012

A Explicação do Inexplicável


Já comentei várias vezes que detesto apresentar seminários, ainda mais quando estes não ocorrem na minha amada língua materna, com aquele t e d bem chiados que soam quase como um g! Tentem só, paulistanos, falar tia, canetinha, dia e por aí vai. Idéias muito complexas, expressadas com verbos fora da posição natural (afinal é uma aberração do alemão a ação lá no fim da frase, onde o Judas perdeu as botas) são um desafio e tanto. Assim justifica-se as minhas noites mal dormidas antes de qualquer mísera apresentação, entrevista ou reunião.
Mas eis que dessa vez outra coisa anda me tirando o sono. Estou sendo acometida pela vergonha. Sim e não é do meu sotaque engraçado ou de ter de encarar professores formais sentados com a caneta e um bloquinho olhando para mim. Estou me sentindo peculiarmente mal por ter de apresentar dados do IBGE, de 2009 (da pesquisa nacional por amostra de domicílio – PNAD). É medonho os 20% de analfabetismo funcional e  o número para lá de minguado da população com curso superior, 10,6%. E olha que a qualidade da universidade nem entra em pauta. Um diploma qualquer está valendo. Vou ter mesmo é que dar uma rebolada para explicar isso. E os dados de acesso à internet? Na lista de quantidade de usuários dos “Dados de Mídia” estamos à frente da Alemanha! Ele só esqueceram de avaliar os dados, de acordo com o numero total de habitantes. Enquanto aqui 80% da população usa a internet, para nós a porcentagem é de 40% e com uma mega concentração no sudeste.
Vou parar com os números para não ficar chato. Mas alguém pode pelo menos me dar uma dica de como eu explico a propriedade cruzada da nossa mídia, totalmente desprovida de regulação? Aqui regulamentação do setor não significa censura. Aliás, os canais estatais são os que mais gozam de credibilidade. Apesar de públicos, eles não podem sofrer interferências dos governos e são sustentados pelo imposto da população (cerca de 17 euros no mês). Assim, o país garante conteúdo de qualidade e livre de propaganda. Se algum coitado propor isso para nós, vai ser chamado de seguidor do Chávez! Ainda vou escrever um post sobre a tal “rechtlich- öffentlich Fernsehen“, mesmo sabendo que os textos assim (chatos, eu sei) são os menos lidos. Não é vergonhoso a Freedom House classificar a mídia brasileira como “parcialmente livre”? No ranking aparecemos lá longe, no nonagésimo primeiro lugar! Dêem uma conferida na listagem desse ano: http://www.freedomhouse.org/sites/default/files/Booklet%20for%20Website.pdf

A lista de critérios é bem interessante. E no estudo do Repórteres sem Fronteiras, também não estamos lá muito melhor. Estou vendo mesmo que ficarei sentada com cara de bolacha diante do inexplicável na frente dos meus coleguinhas alemães. “Afinal, a economia de vocês não está em alta”? ai ai ai... A gente até que está com a bola toda aqui fora... Já leram a matéria sobre o Brasa na “Der Spiegel” desse semana? O samba Prussiano... (semana que vem estará liberado no online, por enquanto só impresso). Cruel é tentar explicar tanta contradição! Bem que os diretores das nossas maiores empresas de comunicação podiam sentar lá do meu lado para me dar uma forcinha... 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Proximidade à distância

Havia pelo menos um ano que não colocávamos o papo em dia com um amigo. As razões são diversas, mas eis que, por força do destino, conseguimos estar no mesmo continente, país e cidade por míseros três dias. Pois é. “Conheço um lugar ótimo que vocês precisam ir”, disse ele. Chegamos ao local para tagarelar um pouco, o Gordon´s Wine Bar. Era uma taberna de 1890 com paredes de tijolos e iluminada por candelabros. O vinho e a comida eram bons, ainda mais misturados com a umidade, gotinhas de água nas costas e cheiro de mofo. Para que não haja mal entendidos – não há ironia no comentário. O lugar era mesmo sensacional e no mesmo nível do rio Tâmisa. Entramos todos meio agachadinhos para não bater a cabeça, mas garantimos uma mesinha bem aconchegante embaixo da goteira. Todo o preâmbulo é para chegar à seguinte conclusão – mesmo há meses sem nos falarmos, esse amigo tinha certeza que a gente acharia a indicação superb, como dizem os ingleses. E acertou em cheio!
Não importa quanto tempo passe, há reencontros que são sempre a mesma coisa. Estou falando do lado bom da moeda. Sem essa de voltar para a casa que nascemos há 30 anos no interior de qualquer “biboca da parafuseta” e nos sentirmos deprimidos porque o azulejo continua trincado exatamente no mesmo ângulo, quando partimos anos antes. Refiro-me ao fato de continuarmos conseguindo conversar por horas a fio apesar das diferentes experiências ou rumos tomados na santa vida. Tudo independentemente do tempo sem se ver. Tenho uma outra amiga, que por sinal faz umas vinte e sete primaveras (ou por aí) hoje e a gente sempre garante boas risadas nos reencontros.
Somos água e vinho. Sempre fomos, mas isso nunca impediu a cumplicidade. Crescemos praticamente juntas, nos víamos quase todos os dias, puxávamos os cabelos durante as brigas e nos chamávamos aos berros pelas janelas de casa. Não moramos mais naquela rua que nascemos e nos conhecemos. Cada uma foi para um canto, seguimos caminhos diferentes. Nos encontramos claro para festas, velórios e jantares esporádicos. No fundo, ela nunca veio nos visitar em terras germânicas porque sempre foi mega consumista e gastava o salário todo que ganhava numa empresa de comércio exterior em roupas, botas e sapatos! E todo ano dava a mesma desculpa! Anda sempre na estica, adora a calculadora, odeia poesias e exposições e não dispensa uma boa balada, daquelas bem barulhentas, de ensurdecer. Ainda assim, aceita convites para conversar sob uma xícara de chá, embora torça o nariz e resmungue: “só você mesmo”. Se nos encontrássemos só daqui trinta anos, com certeza eu ouviria essa exclamação! Até hoje ela não colocou o blog dela no ar para contar o que anda aprontando nas praias do pacífico...
A lista de pessoas assim é restrita, mas dá para citar sim alguns casos, mesmo que contados nos dedos. Companheiros(as) de escola, adolescência, faculdade... O exemplo mais espetacular eu vi na película argentina de Paula Hernández. Trinta anos depois, a personagem Lisa (Elena Roger) aparece na casa do amigo Bruno e grita bem alto: “Zé Buceta”! O enredo trata mesmo de um caso de amor, mas não importa. O interessante é esse tipo de intimidade entre amigos ou pessoas que não se perde. Né, cara de piu piu? 

Sarajevo — Guerra da Bósnia e os encantos de Mostar


 Bósnia – Um quebra-cabeça complicado e atraente

(Texto originalmente publicado na revista Viaje Mais! Jul. 2012)

A partir da capital Sarajevo, que há 20 anos era palco de uma guerra, descubra toda riqueza e complexidade deste país que é uma colcha de retalhos étnicos, históricos e culturais

Por Regina Cazzamatta

Um centro histórico que reúne mesquitas, sinagogas e igrejas católicas e ortodoxas, junto a antigas praças nas quais os aposentados passam horas jogando xadrez num tabuleiro pintado no chão. Definitivamente, essa plácida cena não condiz com a ideia que a maioria das pessoas faz de Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina. É que, apesar de hoje viver em paz, tornando corriqueira a presença de velhinhos nas praças locais, assim como o vaivém de pessoas que se espera encontrar numa capital com pouco mais de 300 mil habitantes, Sarajevo segue intimamente ligada à Guerra da Bósnia.

O complicadíssimo conflito, que começou há exatos 20 anos, em 1992, esfacelou de vez a multiétnica Iugoslávia e deu origem, com reconhecimento internacional, a países como a própria Bósnia. É inegável que a sangrenta batalha marque o roteiro dos visitantes, mas basta bater perna pelo centro de Sarajevo – e por cidades como Mostar, a duas horas de carro da capital – para se encantar com os resquícios do caldeirão cultural herdado dos tantos povos, que ao longo dos séculos, dominaram a região.
A vizinhanças resulta da mistura entre o tempo em que os eslavos do sul mandavam por ali, mais os 40 anos de tutela do Império Otomano (século 15 ao 19). Um tempero ocidental foi dados pelo Império Austro-Húngaro. Ao fim da Primeira Guerra, em 1918, foi formada, com os reinos da Sérvia, Croácia e Eslovênia, a Iugoslávia. O país dissolveu-se em 1992, quando a Bósnia tentou a independência e foi rechaçada (veja na pág.185/fim do post), dando início ao pior conflito europeu pós-Segunda Guerra.   
É por conta desse pot-pourri que Sarajevo reúne em seu centro histórico igrejas católicas e ortodoxas, mesquitas e sinagogas. A convivência entre pessoas de diferentes credos nem sempre foi pacífica, mas, hoje em dia, a única batalha enfrentada pelos moradores são aquelas de xadrez, citadas no começo da reportagem, que podem ter lugar na praça em frente à Nova Igreja Ortodoxa Sérvia. As partidas reúnem senhores – possivelmente veteranos de guerra – e passantes, que começam a dar opinião.
Distinguir os palpiteiros dos jogadores é tão difícil quanto classificá-los com relação à etnia. Vivem no país três grupos: os bósnios sérvios (de maioria ortodoxa), os bósnios-croatas (geralmente católicos) e os bósnios islâmicos, os Bosniaks. A fisionomia é muito parecida, pois todos descendem dos eslavos.

Oriente no Centro Histórico
É na Praça Bascarsija, no coração do centro histórico, que se encontra a herança oriental mais forte. No tempo do Império Otomano (1440 a 1878), esse ponto já concentrava o agito de Sarajevo. Ali, vielas com lojas que vendem produtos de ferro – como as xícaras próprias para o café turco (ou bósnio) – dão um toque mercantil à área.
 Na mesma região, especificamente na Praça dos Pombos – assim chamadas pela infinidade desses animais ali presentes- está o ícone da cidade. Construída em 1891, a fonte de água é uma cópia da que existia em Constantinopla (atual Istambul, na Turquia).  
A poucos passos fica uma edificação de pedra de 1551, com seis cúpulas esverdeadas. Antigamente um mercado de produtos de seda, o lugar hoje abriga o museu da história de Sarajevo, que exibe maquetes espetaculares da capital.  
Enquanto se descobre esse bairro, é possível que se escute uma música ou uma voz ecoando em alto-falante. É o chamado para a oração que os mulçumanos fazem cinco vezes ao dia, que pode ser realizada na mesquita “Gazi Husrev Begova”. Um dos principais de Sarajevo, esse tempo islâmico, de 1530, é um bom exemplo da arquitetura otomana nos Bálcãs. A comunidade que o freqüenta está acostumada com os turistas, que podem visitar o espaço – e as mulheres não devem estar com pernas e braços à mostra.

Sarajevo Européia
Com inúmeras lojas, cafés, restaurantes e galerias, a avenida Ferhadija marca a chegada a Sarajevo herdada do Império Austro-Húngaro, potencia europeia que existiu entre parte do século 19 e o fim da Primeira Guerra. O marco da tal transição para o “mundo ocidental” é o Hotel Europa (Vladislava Skarica 5), um dos mais antigos da cidade. Após ser completamente destruído durante a guerra, ele novamente oferece seus serviços cinco estrelas.
Ali do lado, estão as ruínas do “Morica Han”. Se no tempo do Império o complexo servia de acomodação e depósito de produtos os mercadores, atualmente ele funciona como um centro de compras cheio de cafés e restaurantes. Já no final da Ferhadija uma chama constantemente acessa queima em memória daqueles que deram suas vidas pela libertação de Sarajevo dos fascistas, durante a Segunda Guerra Mundial.
 Além da arquitetura e da religião, as diferenças entre Ocidente e Oriente podem ser observadas (e experimentadas) nos cafés. O Belle Epoque (Kundurdziluk, 4) ostenta uma decoração que faz jus ao nome se serve  tortas típicas da Áustria como a sachertorte (com chocolate e geleia de damasco) ou Apfelstrudel (torta de maçã), sem abrir mão do café bósnio, que, como o turco, não é coado. Já o Café Sevdaha Kahva (Halaci, 5), está em um ambiente de vidro, cheio de plantas e chão de pedra. No menu, figuram doces turcos como o kadaif, fios de massa doce recheados com nozes.
Mesmo com a aparente normalidade em Sarajevo, realçada por um clima de efervescência cultural e pelo crescente movimento de turistas, é fácil notar as cicatrizes da guerra, que durou de 1992 a 1995. As lembranças do conflito não estão registradas somente nas paredes das construções, marcadas por tiros de metralhadora, ou nos adesivos da ONU, mas sobretudo no imaginário e rotina da população. Nos shoppings e museus, é comum deparar com avisos que indicam a proibição de...armas. É assim quando se visita o Museu Histórico, onde o porteiro reitera a proibição de armas já apontada por uma placa. Nos mercados do centro histórico, cerca de 1 milhão de balas que caíram sobre Sarajevo foram parar em diversos apetrechos vendidos aos turistas.
Para começar a entender a guerra, visite o Museu Histórico, na Rua Zmaja od Bosne. Comhecida como “avenida dos franco-atiradores”, essa via era uma das mais perigosas na época dos combates. A exibição é simples, mas diz bastante sobre o período. Imagens de crianças machucadas (estima-se que 1.620 foram mortas e 15 mil tenham se ferido) e seus desenhos mostram a realidade da infância perdida. Fotos da biblioteca antes do conflito- no qual perdeu 3 milhões de documentos, como registros antiqüíssimos da cultura dos eslavos do sul – dão uma ideia da outrora grandiosidade do edifício, que está sendo restaurado.
 Além de latas de comida enviadas pela ONU, também estão à mostra as engenhocas inventadas para cozinhar sem energia elétrica ou gás. No piso térreo há uma exibição das chocantes imagens feitas pelo fotográfico Ron Haviv, reunidas no livro Sangue e Mel: um Jornal da Guerra dos Bálcãs, de 2000.  
Também é interessante fazer um passeio especializado, como os da empresa Insider (Zelenih beretki, 30), que oferece diversos roteiros. Se você fizer o tour com o guia Adnan Zuka, você ficará sabendo que ele faz aniversário no mesmo dia em que a guerra começou, 6 de abril. Assim como milhares de crianças, ele perdeu parte da infância escondido em porões e teve de freqüentar escolas subterrâneas.
Intercalando histórias pessoais e fatos de guerra, Zuka e o motorista da excursão – um ex-soldado, na faixa dos 60 anos – levam às montanhas que circundam Sarajevo e às ruínas da cidade medieval. De lá, o guia aponta cada montanha ocupada pelos sérvios. O roteiro leva a cemitérios de guerra, que ocupam montanhas, parques e até mesmo partes de campos de futebol. “Quem quisesse enterrar seus mortos, tinha de fazê-lo à noite, para não ser atingindo pelos atiradores de elite sérvios”, explica o guia, contando que, só em Sarajevo, foram 11.541 vítimas.

Mais Guerra na Veia
 Um dos pontos altos da excursão é o túnel sob o aeroporto, que ficou à época sob custódia da ONU por três anos. Localizado entre a capital sitiada pelos sérvios e a montanha Igman, a única sob controle dos bosniaks (bósnios islâmicos), o aeroporto tinha o status de zona neutra. Mesmo assim, era praticamente suicídio cruzar a pista até a montanha em busca de recursos. Por isso, em 22 de dezembro de 1992, o exército da Bósnia decidiu construir um túnel por baixo da pista para viabilizar o leva e traz de armas, medicamentos e alimentos, que foi realizado com dois homens um cavando em direção ao outro. Pela estrutura de 1,5 metros de altura e um metro de largura, passaram cerca de 4 mil pessoas e 20 toneladas de mantimentos.
Hoje restam só 20 metros do desconfortável túnel, que podem ser atravessados. Uma de suas extremidades fica no quintal da casa da família Kolar, hoje um museu, onde há fotos e um vídeo sobre o conflito. O casal Alija e Sida Kolar ainda vive próximo ao centro de visitação e lá está retratado: no vídeo, Sida é a senhora que leva água aos soldados. Mesmo sob ataque, as pessoas tentavam levar uma vida normal. “Havia até encenação teatral nos porões” , lembra o guia Adnan Zuka. O tradicional Festival de Sarajevo, por exemplo, foi mantido. Em 1994, seu tema foi “Ser ou Ser, sem Questão”, adaptada da famosa frase de Shakespeare para remeter à necessidade de sobrevivência. 
Cartazes desse festival estão no restaurante To Be or Not to Be (Cizmedziluk, 5), de onde saem pratos  ecléticos e saborosos. Outra boa pedida gastronômica é o restaurante bósnio Inat Kuca (Velika Alifakov,1). Servindo os típicos ensopados e tortas de carne e espinafre, é como um museu do Império Otomano. A cervejaria Pivnica HS (Franjevacka, 15) também vale a visita. Tanto quanto para tomar uma cerveja, o lugar é interessante pelo que significou no conflito: era ali que muitas pessoas buscavam água em um poço. 
Além da comida boa e com preço acessível, há sempre um detalhe interessante em cada lugar. No Dveri (Prote Bakovica, 10), estaca-se um quadro.
Uma foto em preto e branco mostra uma mão já enrugada, em close, segurando quatro cartas. No lugar de damas e valetes, a cruzes cristã e ortodoxa, a estrela de Davi e a lua e a estrela islâmica, com a singela frase: “Deus está do nosso lado”. Outra dica é experimentar os vinhos do país, feitos principalmente em Herzegóvina. Premiado por lá, o “Blatina Vinogradi Nuic” (cerca de € 20) é degustado em lugares como a classuda Vinoteka (Skenderija, 12). Com serviço de primeira e cardápio com quê de Itália, a casa é dona de uma adega com os melhores rótulos da cidade.
Entre tantas delícias locais, prove mais uma: o cevabdzinica. Trata-se de um pão sírio, recheado com creme de queijo fresco, mini-croquetes de carne e cebola crua picadinha. O melhor local de Sarajevo para encarar o sanduba é no Zeljo (Kundurdziluk), próximo a praça dos pombos.   

Beleza medieval em Mostar
De ônibus, em duas horas e meia de viagem desde Sarajevo, chega-se a Mostar, em Herzegóvina, um dos pontos altos do turismo no país. Passeios saem da capital para lá praticamente todos os dias. Ir de carro pode sair um pouco mais caro, mas, além de ganhar meia hora no trajeto, ainda dá para ir parando ao longo do esverdeado Rio Neretva e dar uma espiada na ponte quebrada de Jablanica.
O estrago é resultado de um estratégia do general Tito (presidente da Iugoslávia à época da Segunda Guerra), que ali comandou uma crucial batalha das forças aliadas. Para despistar os nazistas, Tito mandou bombardear a ponte, impedindo que os alemães cruzassem o rio. O que eles nem imaginavam é que Tito construiu uma outra ponte improvisada de madeira, durante a noite, pela qual transportou 4 mil feridos e encontrou as tropas do outro lado. Até hoje a ponte está lá, destroçada, em memória à batalha.
           Depois é só seguir de carro às margens do rio, emoldurados por parreiras, até a bela Mostar. O símbolo local  é a velha ponte medieval (Stari Most), tombada pela Unesco. Erguida durante o Império Otomano, a construção – ornamentada por arco de pedras entre duas torres medievais, é mesmo uma maravilha da engenharia da época.A Stari Most serve de moldura para uma infinidade de cafés e restaurantes, que ocupam as margens do Rio Neretva, e também pode ser contemplada do minarete da Mesquita Koski Mehmed Pasha. Seu topo propicia um dos melhores panoramas do centro histórico, cheio de casa de pedra.
           Durante a guerra dos Bálcãs, esse cenário medieval ficou em ruínas. Até mesmo a ponte foi destruída pelos croatas, em 1993, só  voltando a bela forma original em 2004. Parece confuso, já que o inimigo comum eram os sérvios, o que quer dizer que os bósnios islâmicos e os croatas católicos lutavam do mesmo lado. Como guerra e coerência não andam juntas, as duas etnias passaram a lutar também entre si, dividindo a cidade.
Embora tal divisão não seja aparente, ela se mantém. “Aqui é como Berlim antigamente”, diz um guia, mostrando um prédio que deveria ser uma escola multiétnica. “Na realidade, ali há duas instituições, duas entradas separadas e dois diretores”, explica ele, afirmando que, em Sarajevo, católicos e mulçumanos convivem normalmente, mas, em Mostar, há limitações.

Santa da Terra e da Guerra
Somente a 30 quilômetros de Mostar, está o Medugorje, cidadezinha que, desde 1981, é um importante centro de peregrinação para os católicos. É que em 24 de junho daquele ano, seis jovens teriam tido uma visão da Virgem Maria, milagre ainda não reconhecido pelo Vaticano.
Lá, qualquer visita leva à igreja de duas torres, que ostenta uma estátua da santa perto da fachada e onde os devotos oram e fazem seus pedidos. Ao lado, centenas de lojinhas vendem imagens, terços, estátuas e toda sorte de itens referentes à virgem. Outro ponto que atrai os peregrinos é o topo da montanha em que Nossa Senhora teria sido avistada, que exige 20 minutos de caminhada para ser alcançada.Não importa se em uma cidade predominantemente católica, como Medugorje, ou em regiões mais mescladas do país, a exemplo de Sarajevo, ainda é delicado abordar o tema da guerra. Assim, o melhor é ouvir os relatos e fazer um “recorte” para tentar encaixar as peças do quebra cabeça.
 Fato é que todos os lados (sérvios, croatas e bosniaks) assumiram seus penosos exageros e estão longe de esquecer o pesadelo do conflito. Por ouro lado, há o espírito de renovação e a esperança de futuro bem diferente, que a chegada de mais um turista pode ajudar a construir. Por todo esse complexo a apaixonante mosaico histórico e sensorial, está mais do que na hora de pensar em seguir para a renascida - e hoje em paz – Bósnia- Herzegóvina.

Entenda a Guerra da Bósnia, que se iniciava há 20 anos

Contar a história da guerra da Bósnia não é fácil e depende sempre da perspectiva de quem a relata: sérvios (ortodoxos), croatas (católicos) e bosniaks (mulçumanos). Com o declínio da antiga Iugoslávia, os ânimos nacionalistas ficaram bastante aflorados sob a influência do líder nacionalista da Sérvia, Slobodan Milosevic, e da Croácia, Franjo Tudman.
A Bósnia- Herzegóvina, sob o comando de Alija Izetbegovic, declarou–se independente da Iugoslávia por meio de um plebiscito, em 15 de outubro de 1991. Bósnios- sérvios não aceitaram a declaração e formaram um governo paralelo em Pale, a 20 Km de Sarajevo. O reconhecimento internacional da Bósnia independente veio somente seis meses depois, em 06 de abril de 1992, mas as tropas sérvias e parte do exército iugoslavo já haviam sitiado Sarajevo.

sábado, 9 de junho de 2012

Saudade Vira-Lata

Sabe aquela cachorrada barulhenta que embala a sinfonia canina bem depois da meia noite? Ou aqueles cães de personalidade menos extravagante, mas donos de mãos (ops, patas) leves que rasgam o lixo em busca de restos das iguarias dos irmãos burgueses e de raça? Eles não existem na Alemanha. Bom, achei que não existissem, mas acabei de achar uma exceção pelas ruas de Dresden (o que motivou este post). A malandragem canina foi banida das ruas. Não há nem um pequeno rastro do perfil meio pulguento, mas livre e aventureiro. Nada daquele cão bastardo, com rabo de cocker e orelhas de poodle. Por aqui, quem tem um bichinho de estimação tem que pagar imposto. Eles recebem vacina e até um chip de identificação (!) para que não possam se rebelar e fugir para bem longe daquelas roupinhas de gosto duvidoso, banho, tosa e fitinhas. Sob a tutela de seus donos, também não se misturam por aí com outros filhotes de raça suspeita.