terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Colombia, Cartagena e Caribe

“Colômbia, terra querida” 

Descubra o belo e emblemático litoral caribenho no país do realismo mágico 


Só a alegria contagiante dos Colombianos, a musicalidade, os aromas e sabores da cozinha típica já seriam razões suficientes para aterrissar nessas praias banhadas pelo mar do Caribe. Mas esse litoral tem ainda um charme tão próprio que ficção e realidade se confundem de modo surreal, fazendo jus ao termo mais usado para descrever esta sensação – o realismo mágico. Difícil de explicar para quem ainda não experimentou brincar com o fogo do seu fascínio.
Aqui você viverá um romance a cada esquina, terá casos amorosos com os labirintos coloniais de Cartagena, velejará pelas sedutoras águas caribenhas até a Playa Blanca ou se apaixonará pela silhueta  curvilínea da ilha do Rosário. Uma apimentada política e revolucionária pode ser apreciada na cidade de Santa Marta, onde morreu Simón Bolívar, herói nacional e libertador latino-americano. E para quem só consegue mesmo ter coração e sofrer por futebol, uma parada em Barranquilla dará um toque final a esse roteiro. 


Cartagena – a cidade colonial amuralhada 

Capital do departamento Bolívar, Cartagena de Indias é sem nenhuma dúvida a soberana desse litoral. Outrora um dos portos mais importantes da América colonial, a cidade foi fundada por Pedro de Heredia em 1533 e até hoje mantém muito do seu carisma histórico. Monastérios, praças, palácios, mansões e igrejas coloniais formam o centro antigo, tombado como Patrimônio Cultural pela UNESCO. Não é difícil entender o porquê. Um emaranhado de vielas marcadas por casas centenárias de fachadas multicoloridas e varandas coloniais dominam o cenário quase mágico. 
O primeiro contato do forasteiro com a urbe, ainda dentro do táxi, ao deixar o aeroporto, já é arrebatador como amores à primeira vista. De um lado, as ondas do mar quebrando sobre as rochas; do outro uma das maiores fortificações da América Latina, uma muralha que abraça e protege todo o centro histórico. Passar o arco amarelo da torre do relógio, a principal entrada para a região amuralhada, é como entrar em um túnel do tempo e rebobinar 400 anos de história. Esse panorama aliado a uma vibrante vida noturna, paisagens cênicas, praias notáveis e serviços impecáveis faz de Cartagena um destino global. Boutiques, hotéis, restaurantes, marcas e lojas de primeira tornam a rota um ponto cada vez mais hip do turismo colombiano. 
Mas Cartagena não é só a queridinha dos turistas. A cidade também deu asas a imaginação de um dos escritores mais criativos do continente – Gabriel García Márquez, Nobel colombiano de literatura em 1982. Afinal, não são só os turistas que perambulam por essas ruelas tortuosas, esvanecidos pelo brutal calor e pela cachola cheia de possíveis aventuras. Esse cenário na brilhante mente do escritor resultou na obra prima “Amor em Tempos de Cólera”. Afinal, em que outro lugar desse planeta alguém como o personagem Florentino Ariza conseguiria esperar por 51 anos, nove meses e quatro dias (!) pela sua paixão da juventude? 
A empresa “Tierra Magna” organiza tours e oferece áudio-guias que mostram a relação de García Márquez com a cidade, não só na ficção, mas também na vida real. Há alguns anos, um grupo de historiadores, alunos e pesquisadores começaram a averiguar a relação do ídolo com  cidade. Foi aqui que o autor começou sua carreira como escritor ao chegar de Bogotá, ainda como um estudante durango em 1948. Depois de estabelecido, morou a maior parte do tempo na Cidade do México, mas como sua família se mudara para Cartagena, o escritor visitara a urbe com certa frequência e até comprara uma casa onde se aconchegava durante os invernos. A propriedade de paredes rosas alaranjadas, à beira-mar, no bairro de San Diego, na extremidade do centro histórico, atrai bastante turistas, mesmo que não seja possível visitá-la. 

A Praça Simón Bolívar também serviu de inspiração para o romance. Nesse local, precisamente na arcada repleta de colunas, Florentino foi dramaticamente rejeitado por Fermina. Mas de certa forma, o quarteirão, marcado pela estátua de bronze de Bolívar sobre um cavalo, é mesmo fonte de criatividade para uma porção de gente. Um ponto de tradição local aliada a muita imaginação. A qualquer hora do dia, artistas fazem performances locais, cantam, dançam, sambam e dão piruetas por ali. Tudo isso associado a muito calor, mesmo protegidos pelas robustas copas das árvores, e um vai-e-vem de carrinhos de guloseimas e bebidas. 
É possível perder um dia completo só assistindo o movimento. Música, suor, roupas multicoloridas, ritmo e palmas dominam o clima festivo tropical. É ali também que se encontra, por exemplo, o Palácio da Inquisição, onde eram julgados os crimes contra a fé. Trata-se de uma das edificações típicas mais bonitas da cidade, mas com um passado um pouco sombrio. O primeiro andar é dedicado à “caça às bruxas”, repletas de instrumentos de tortura e fotos horripilantes. Já o segundo andar exibe a história de Cartagena e objetos de arte pré-colombiana. A estrutura em si, com seus arcos espanhóis brancos e palmeiras destacando-se frente às paredes amarelas já vale a entrada. Na mostra, um trecho da obra de Gabo (como Garcia Márquez ainda é chamado carinhosamente por seus conterrâneos), que se refere a esse período bem tenso da história, destaca-se na parede: “Atravessamos o oceano para impor a lei de Cristo, e temos conseguido nas missas, nas procissões e festas, mas não nas almas”, retirado “Do Amor e outros Demônios”. 
Outro ponto associado ao passado colonial desta pérola caribenha é o Castilo de San Felipe de Barajás, uma baita fortaleza (mais uma!), construída pelos espanhóis em 1657, sobre o morro de São Lazaro. A massiva construção e seus túneis subterrâneos de fuga foram pensados para proteger a cidade dos ataques dos piratas ingleses. Não foi medinho bobo, não. Só no século 16, Cartagena sofreu nada mais nada menos que cinco assaltos, sendo o mais nefasto dele conduzido pelo Senhor Francis Drake. Aparentemente o lorde britânico teve piedade e “libertou” a cidade sob uma modesta quantia de 10 milhões de pesos! Como a brincadeira doeu no bolso, a solução foi mesmo subir a patrulha de tijolos. Além de longas estruturas de pedras, fritando sobre o sol, a vista para a baía promete belíssimas fotos. E quando o calor ficar insuportável, a boa é encarar o labirinto subterrâneo para não se deixar cozinhar vivo.
O trauma causado por Francis foi tão intenso que acarretou também na construção das muralhas que circundam a cidade antiga. As obras começaram depois do fatídico ataque, mas só terminaram duzentos anos depois, mais ou menos 25 anos antes dos próprios Espanhóis darem linha na pipa. Hoje em dia, é o marco local, com moradores e turistas caminhando, assistindo ao por do sol e tomando cafés ao fim do entardecer. No interior desse bastião, no coração de cidade, hotéis, restaurantes descolados, lojas de souvenires e o maior número de atrações turísticas como museus, praças e exposições seduz os visitantes. 
Ao anoitecer, quando as luzes amareladas caírem sob as ruas de paralelepípedo, aproveite para tomar uma no “Donde Fidel”. O bar é como uma instituição, bem na praça de Los Coches, com diversas mesinhas do lado de fora. Mesmo quem quiser apreciar uma gelada e observar o movimento de transeuntes e carruagens do lado de fora, não deixe de checar a parte interna do estabelecimento. As fotografias antigas, a decoração típica e o murmurinho de ritmos latinos tocando ao fundo são parte da identidade local. Para um pit stop mais vespertino e intelectual, dê uma conferida no café-livraria Ábaco. Ali você pode apreciar um bom café colombiano, rodeado por prateleira de livros penduradas por todas as paredes de tijolinhos azuis. Um charme literário sem igual. 
É difícil se desvencilhar da paixão causada pelo centro histórico, mas Cartagena ainda tem muito mais a oferecer. A região de Getsemaní, do lado de fora das muralhas, resistiu a forte gentrificação do centro histórico e tem uma pegada mais hipster, habitada por trabalhadores e estudantes. Perambular por ali pode revelar grandes surpresas, grafites multicoloridos e cenas da vida cotidiana local. Em uma rua repleta de street art, uma moça faz as unhas de uma outra mulher, que descansa os pés dentro de uma bacia cheia de água. 
Como o calor à tarde pode ser intenso, as duas garotas riam e se dedicavam à manicure ali mesmo do lado de fora, cobrindo o rosto e gargalhando da própria situação, enquanto acenavam com as mãos para os turistas que clicavam as paredes grafitadas. Já em “Bocagrande”, um subúrbio meio à lá Miami, encontram-se os grandes condomínios residenciais de luxo e os hotéis à beira mar. Por essas bandas, o programa é mesmo curtir a água, caminhar na orla e aproveitar os serviços de bar, shoppings e restaurantes. Quem optar por se hospedar nessa área da cidade, poderá tomar café da manhã perto do oceano, assistindo aos passarinhos perambularem pelas mesas. A região não está longe da cidade, e os táxis oficiais amarelos são extremamente baratos. Uma corrida até o centro histórico sai por cerca de um a três euros (de 4 a 8 mil pesos colombianos). 

Ilha do Rosário e Praia Branca – o paraíso logo ali

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