sábado, 19 de maio de 2018

Royal London: Londres da Realeza


Londres está alvoroçada com as novidades da realeza. O anúncio do noivado do Príncipe Harry com a atriz norte-americana Meghan Markle abriu um novo capítulo na história da mais antiga família real do planeta. Os típicos tabloides não falam em outra coisa senão do casamento marcado para 19 de maio no castelo de Windsor. Mas se você não foi convidado para a festança não tem problema. Grande parte dos castelos e palácios ingleses é aberta à visitação. E nem é preciso ser princesa ou duque para caminhar pelos mesmos corredores pelos quais passaram os grandes monarcas britânicos. Nesta reportagem, a correspondente da Viaje Mais ensina os caminhos que o levarão ao lado mais tradicional da Londres da Realeza. 

Windsor. A troca de alianças 

Castelo de Windsor, onde ocorrerá o casamento do Princípe Harry com Megham

O casamento entre Meghan e Príncipe Harry vai acontecer no Castelo de Windsor, que fica a 30 minutos de Londres. O castelo de quase mil anos de história é o retiro de fim de semana da Rainha Elizabeth II, ou Lilibeth para os íntimos. O visitante pode caminhar sobre as muralhas e conhecer os aposentos reais. Ao visitar os Apartamentos de estado, dá para reconhecer de imediato quem recepciona o visitante. 

Sim, o Príncipe Charles relata no guia de áudio como estes cômodos foram adaptados aos caprichos de 30 monarcas. O tour pela torre é uma boa pedida para ter uma vista aérea da fortificação: as muralhas, o Rio Tâmisa, os campos esverdeados e o colégio Eton, uma das escolas secundárias mais prestigiadas da Inglaterra. Com este cenário, entende-se facilmente a escolha dos pombinhos para a cerimônia do casamento.




Há outras explicações – digamos um pouco mais sentimentais – além da paisagem romântica para a preferência por Windsor. Megham teria passado alguns dias no castelo para conhecer melhor os integrantes da sua futura família. O príncipe também fora  fisgado por suas memórias de infância, quando estudava no Eton e costumava visitar sua avó. Aliás, por ocupar a quinta posição na sucessão do trono, Harry teve que pedir autorização da Vossa Majestade para se casar com a atriz, conforme uma lei de 1772!
Vista para a Capela de São Jorge, em Windsor

Após o evidente sim, a união será selada na Capela de São Jorge, um belo ícone da arquitetura gótica inglesa, de 1348. Por aqui, a voz do Príncipe Charles também é nossa cicerone. Além dos fatos históricos, descobre-se alguns entes queridos da realeza que descansam na capela: os pais de Elizabeth II (a Rainha Mãe e o Rei George VI) e sua irmã (Princesa Margareth). Outra atração do castelo bastante popular entre os turistas é a casa de boneca da Rainha Maria (a avó de Elizabeth II). O trabalho é minucioso e impressiona pela riqueza de detalhes, como a biblioteca de 700 minilivros.
Portões de entrada da fortaleza em Windsor

Já o maior cômodo do castelo – o Grande Salão de São Jorge – é onde acontece os banquetes de Estado, com uma mesa capaz de comportar até 160 pessoas. Aqui, a Rainha recepcionará os convidados na hora do almoço para celebrar a união de seu neto com a atriz. O cômodo foi devastado por um incêndio em 1992.  Imagens mostram o tamanho do estrago. Foram precisos 15 horas e 1,5 milhões de galões de água para conter o fogaréu. Felizmente, após cinco anos e um gasto de £ 37 milhões (cerca de R$ 180 milhões), o processo de restauração foi um sucesso. Mas é graças à essa tragédia que se pode visitar hoje o Palácio de Buckingham. Com a necessidade de levantar fundos para a restauração, a Rainha abriu as portas do seu ambiente de trabalho em 1993.

Buckingham. o coração administrativo da monarquia 

Vista do Palácio de Buckingham

No verão, quando a Rainha costuma viajar para a Escócia, é possível conhecer os Apartamentos de Estado do Palácio de Buckingham. É uma visita restrita, que só pode ser feita de 21 de julho a 30 de setembro, e somente 19 dos 775 quartos estão disponíveis para a bisbilhotice. Ainda assim, é a única oportunidade de estar no coração administrativo da monarquia, um dos poucos palácios de trabalho ainda em funcionamento no mundo. É aqui que a Rainha recebe seus primeiros-ministros, de Winston Churchill a Theresa May, para audiências semanais. Mais de 800 funcionários moram no palácio e zelam por seu funcionamento. Todos os anos, há uma exibição temática. Em 2017, o mote era os 65 anos de reinado de Elizabeth II com uma seleção de presentes recebidos pela monarca. Este ano, a mostra especial celebra os 70 anos do Príncipe de Gales.
Imagens antigas da Rainha Elizabeth II

Chegar à sala dos tronos causa uma certa emoção. O mais antigo é o da Rainha Victoria, de 1837. Com um tíquete combinado também dá para visitar a galeria de pinturas da Rainha e os estábulos reais. A paixão de Elizabeth II por cavalos não é novidade, mas o legal do passeio é ver toda a estrutura de transporte montada para servir a família. Há carruagens para todas as ocasiões – casamentos, coroações e abertura anual do parlamento. Salta aos olhos a carruagem de ouro de 1762, usada para todas as coroações desde George III. Para quem aprecia uma versão mais moderna de locomoção, a coleção de carros reais também não deixa a desejar – três Rolls-Royces, três Daimlers, dois Bentleys, dois Jaguar e uma limusine.
Carruagem de 1762, usada para coroações desdeGeorge III


A Torre de Londres e o ritual das chaves

Vista para o rio Tâmia da Torre de Londres 

A Torre de Londres, às margens do Tâmisa, já foi castelo, forte e prisão. Foi construído nos anos 1.000 e sua história reúne traições, complôs, julgamentos e punições. Hoje, é uma das atrações mais visitadas da cidade. Foi na Torre de Londres que Ana Bolena, a segunda esposa de Henrique VIII, foi decapitada. A astuta moça usou todo seu charme para seduzir o Rei. Mas não foi fácil para o monarca se livrar da sua primeira esposa, Catarina de Aragão. O triângulo amoroso resultou no rompimento de Henrique VIII com a igreja católica, que não admitia o divórcio. No meio do imbróglio, o rei funda a igreja anglicana, que ao contrário da católica permitia vários matrimônios, e se casa com Ana. Por boatos de traição, Ana Bolena foi aprisionada na torre, julgada e condenada à morte por um tribunal composto pelo pai e marido!
Muralhas da Torre de Londres 
 Há diversas atrações dentro da Torre de Londres, como exposições de armaduras e histórias sobre prisioneiros famosos. O que mais atrai são as Joias da Coroa, uma coleção reluzente no valor de £ 20 bilhões, ou cerca de R$ 100 bilhões. Na antessala da exibição, imagens mostram a Rainha Elizabeth II usando a coroa que está exposta. Uma esteira conduz vagarosamente os visitantes pelas vitrines– colares, brincos, coroas e cetros encrustados de diamantes. No fim do dia, guardas da Rainha escoltam o vigilante da Torre de Londres, sempre às 21h53, para o fechamento dos portões. Durante a cerimônia, um sentinela desafia a escolta e pergunta: – Quem vem aí? O grupo então responde: ¬– As chaves! – Quais chaves?, retruca o vigilante.  – As chaves da Rainha Elizabeth II! Este ritual militar, o mais antigo do mundo, ocorre há 700 anos, trocando somente o nome do monarca. O costume é tão popular que é preciso agendar ingressos com um ano de antecedência. Quem não conseguir se planejar, pode ter um gostinho semelhante com o protocolo da troca da guarda. Pontualmente às 11h, todos os dias durante o verão. 


Honra e devoção da guarda real

Troca de Guarda em frente ao Buckingham 

A troca de guarda no Palácio de Buckingham e de São James é realmente um ícone da monarquia britânica. Turistas se reúnem animados para assistir a essediário. O formato é tradicionalíssimo e segue o mesmo modelo em todas as residências da família real. Guardas em postos passam os serviços para os novos, que chegam acompanhados de uma bandinha militar. As marchinhas eram usadas antigamente para estimular as tropas no campo de batalha. Hoje, porém, há uma mescla de músicas tradicionais e modernas. A guarda é formada por soldados de elite de cinco infantarias e duas ordens de cavalaria que protegem a coroa desde 1660. É possível identificar os regimentos pelos números de botões em seus uniformes. As exibições do Guards Museum e do The Household Cavalry contam em detalhes curiosidades dessa tradição da troca de guarda. 

Kensington. Da Rainha Victoria a Lady Di

Palácio de Kensignton

A Rainha Victoria (que reinou por 64 anos, entre 1837 a 1901) passou a infância confinada no Palácio de Kensington. Uma das exposições do complexo relata seus anos de enclausuramento até subir ao trono. Bonecas e brinquedos antigos, fotos e objetos pessoais da Vossa Majestade remontam o período. A Rainha Victoria foi responsável por introduzir a cor branca aos vestidos de noiva ao casar-se em 1840 com o Príncipe Albert. Até aquele momento não existia um padrão de cor para os vestidos de noiva.
Estátua da Ranha Victoria, a primeira moradora de Kensigton 
A escadaria que conduz aos apartamentos reais também não passa despercebida. Seus afrescos e lustres são belíssimos. No antigo quarto de jogos, há mesas para quem quiser se divertir como nos tempos da monarca. Pausa para baralhos e tabuleiros! Os jardins, praticamente uma continuação do Hyde Parque, completam o dia de passeio. Lagos, bancos de madeira sob arranjos de flores e labirintos fazem parte do cenário.
Imagens antigas de Lady Di, em exposição que relembra os 20 anos do acidente
Em 1981, a mansão se tornou a casa do Príncipe Charles e de Diana, depois da união na Catedral de São Paulo. Desde o jubileu de vinte anos da morte de lady Di, uma exibição sobre sua moda e estilo está movimentando o palácio. A mostra exibe itens icônicos de sua coleção e indica a transformação daquela garota tímida em um símbolo da moda. Um dos exemplos é um vestido usado no Brasil em 1991, de seda branca e lantejoulas rosas. Nessa mesma viagem, a Princesa tirou suas luvas para cumprimentar um paciente portador de HIV e virou manchete pelo mundo. Uma Princesa mais moderna e da “plebe”, Diana quebrou protocolos. Abandonou a convenção das luvas e foi a primeira mulher da realeza fotografada usando calças em eventos noturnos. Todo esse experimentalismo lhe deu o titulo de embaixadora da moda britânica.
Vestido usado pela Princesa Diana em visita ao Brasil
Com a avalanche de escândalos entre Charles e Diana, minuciosamente acompanhados pela imprensa, a Rainha Elizabeth II pediu que o casal se divorciasse. A monarca tentava impedir a degradação da imagem da coroa. Mesmo depois do divórcio, Diana pôde manter o título de Princesa de Gales e continuou morando em Kensington, enquanto criava os filhos.
Jardins do Palácio de Kensigton
Desde 2011, o palacete também é a casa de Kate e William. Você verá algumas fotos da família nas paredes. O casal se mudou para o apartamento de quatro andares e vinte cômodos, previamente ocupados pela Princesa Margareth. Megham e o Príncipe Harry também morarão aqui depois do casório, seguindo a tradição da família.

As heranças de Henrique VIII no Hampton Court Palace

Arquitetura da era Tudor, no Hampton Court Palace
Apesar dos escândalos e triângulos amorosos, o Príncipe Charles mal chegou perto do Rei Henrique VIII no quesito esbórnia. Para quem quiser explorar mais essa faceta picante da monarquia britânica, a boa é visitar o Hampton Court Palace,  a principal residência desse icônico monarca. Henrique VIII ficou especialmente famoso por romper com as regras da igreja católica e casar-se seis vezes. Um dos destaques do castelo, o Grande Salão, foi decorado pelo monarca e Ana Bolena (a segunda esposa). O teto de viga exibe as iniciais do casal, além da pedra com o símbolo de faisão da então Rainha. 
Escadarias que conduz aos apartamentos reais, no Hampton Court Palace
Outra atração clássica é o labirinto dos jardins, onde turistas precisam de cerca de vinte minutos para chegar ao centro. Já o chamado Jardim Mágico é um enorme parquinho infantil, cheio de atividades para entreter a molecada. O rei mais fanfarrão da Inglaterra curtiu a vida no palácio de Hampton, mas descansa eternamente na Capela de São Jorge, em Windsor.
Labirinto no Hampton Court Palace
Não só castelos, mas também igrejas e catedrais estão intrinsicamente ligadas à monarquia. A Abadia de Westminster, por exemplo, abriga o túmulo de 17 monarcas e guarda mil anos de história. Figuras importantes para a ciência mundial também jazem na abadia. As cinzas de Stephen Hawking descansarão ao lado do túmulo de Isaac Newton e Charles Darwin. Por aqui, a Rainha Elizabeth se casou com o Duque de Edimburgo e foi coroada em 1953. Este templo no coração de Londres testemunhou ainda o funeral da Princesa Diana, assim como o casamento do Príncipe William com Kate.
Exemplo de chá das cinco na Inglaterra 
Para aproveitar o oba-oba do casamento Real, o Shangri-La Hotel, instalado no The Shard (aquele arranha-céu em forma de pirâmide) criou um chá da tarde para homenagear Harry e Meghan. O chamado Royal Celebration Experience traz as mesas comidinhas da cerimônia na qual o Príncipe pediu a mão da atriz. Custa US$ 85 por pessoa.
Vista da Catedral São Paulo
Já o museu de cera Madame Tussauds apresentou uma nova cena da família real, com todos os integrantes reunidos na varanda do Buckingham. É uma oportunidade para qualquer “plebeu” sair na fotografia ao lado da Rainha Elizabeth II. Era apenas isso o que faltava, pois circular pelos castelos e palácios reais de Londres já não é mais privilégio apenas de quem tem o sangue azul. 

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